O título poderá ser algo enganador porque não existe nenhuma história para contar. Mas há algo, uma breve nota, para assinalar uma vida que passou, efémera, pela guerra que abalou Sarajevo, desaparecendo depois, na penumbra.

Numa batalha onde os atiradores furtivos tiveram uma presença constante, o caso de Strijelac – conhecida em inglês como Arrow – ganha relevância. De origem sérvia, pegou em armas para defender a sua cidade acima de qualquer laço de lealdade para com o agressor. Combateu os sitiantes especializando-se na acção anti-sniper.

Terá inspirado uma das personagens do livro The Cellist of Sarajevo, do autor Steven Gallway. Na novela Arrow era uma atiradora especial que tinha representando a Jugoeslávia nos Jogos Olímpicos, na equipa nacional de tiro. Na vida real não consta que Strijelac o tenha feito. Não se sabe muito sobre ela. Tinha 20 anos, estudou jornalismo na universidade e era um dos melhores snipers em campo. Procurava os oponentes posicionados para alvejar a população civil da cidade e tentava neutralizá-los.

Após a guerra desapareceu sem deixar rasto. Diversos jornalistas de topo tentaram encontrá-la, sem sucesso. Ficaram algumas das suas declarações durante uma entrevista dada em 1992.

Na altura afirmava que ansiava pelo regresso da paz, apenas para se dar ao luxo de ter um dia de ócio. Já não se recordava quantos homens teria matado. Afirma-se viciada no combate e estava em convalescença depois de alguns meses antes ter sido atingida por uma bala nas costas.

Lembrava-se de ter pensado que a sua coluna tinha sido desfeita, o seu primeiro pensamento foi para os camaradas que poderiam ser atingidos se ficassem para trás para a ajudar. Afinal correu por si as centenas de metros que faltavam até se encontrar em segurança.

Diz que não conta os inimigos abatidos, que assim as coisas são mais fáceis. Para a ajudar a premir o gatilho, pensa nas imagens que retém na memória de civis atingidos por snipers sérvios. E garante que nunca fez nem fará o mesmo: disparar sobre um inocente.
A sua vida mudou num espaço de meses. De uma jovem estudante na Universidade de Sarajevo que fazia tiro como hobby, transformou-se numa combatente que passava doze horas por dia em busca de alvos.

Numa outra entrevista, à Associated Press, diz que “muitas vezes chegamos muito próximo; quando disparo, vejo o que fiz, torna-se muito pessoal, não sei como isto me afectará na minha vida futura”.

Explica a sua opção de combater contra os “seus”: “Esta é a minha única cidade. A única cidade da minha vida. Sinto-me responsável por a defender”.

Sobre o seu hobby, diz: “Costumava estar em silêncio absoluto com um alvo de papel diante de mim. Agora estou no meio de um enorme caos com um alvo vivo para abater. Não é fácil de puxar o gatilho.”

Na foto: Strijelac – nunca se saberá o seu verdadeiro nome – carrega a sua arma num abrigo, rodeada de equipamento e armamento auxiliar.

DEIXE UMA RESPOSTA