Esta ponta será uma das mais icónicas imagens do país, simbolizando o misterioso Oriente que ainda hoje se sente por estas terras. A original ponte velha de Mostar foi construida em meados do século XVI, mas aquela que hoje ali vemos é uma reconstrução recente, já que a verdadeira ponte otomana foi destruída pelos croatas em 1993.

Estamos na viragem do meio do século XVI. No local existe uma ponte de madeira, presa fácil para as águas enfurecidas do Nevetva que com uma periodicidade inclemente destroem as passagens ali construídas.

É então que o sultão Suleiman o Grandioso decide que se construa uma ponte de pedra, sólida, desenhada para durar séculos. Os trabalhos iniciaram-se em 1596 e duraram nove anos.

Não se sabe muito sobre o processo de construção. Não ficaram documentos para contar a história e o pouco que chegou até aos nossos dias baseia-se em lendas transmitidas por via oral.

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O mestre-construtor terá sido um tal de Mimar Hayruddin, que foi desde logo avisado pelos homens do sultão que caso falhasse na missão que lhe estava a ser confiada, teria os seus dias contados.

Algumas fontes indicam que à data da sua conclusão esta ponte, hoje com características que nos parecem tão banais, era a mais ampla ponte baseada em arcos existente em todo o mundo.

Durante séculos a sua fama atraiu as atenções e fez o orgulho das gentes de Mostar. Na realidade, o nome da cidade advém da ponte, significando mais ou menos algo como “os guardiões da ponte”. É que se tratava de uma ponte portajada, com os responsáveis pela cobrança a habitarem nos edifícios que ainda hoje se encontram nos extremos da ponte.

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A ponte original durou precisamente 427 anos. Até à Guerra Civil. No dia 9 de Novembro de 1993, um tanque croata posicionado no topo do cerro onde hoje podemos observar uma enorme cruz alvejou continuadamente a ponte com o intento de a fazer ruir. Diz-se que a ponte suportou sessenta impactos antes de finalmente colapsar.

Terminada a guerra, foi estabelecida uma ponte temporária, montada por engenheiros militares portugueses e espanhóis no âmbito da missão da ONU. Assegurada a ligação entre ambas as margens do rio, começou a preparar-se a reconstrução da ponte clássica.

A obra foi financiada por uma série de instituições financeiras e Estados soberanos e a parte técnica do projecto ficou sob a alçada da UNESCO. Os materiais e técnicas de construção aplicados seriam em tudo idênticos aos que se usaram na ponte original. Muitos dos blocos de pedra existentes hoje na ponte foram recuperados do fundo do rio por uma equipa de mergulhadores militares húngaros e a empresa escolhida para a grande obra foi, significantemente, turca.

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Os trabalhos iniciaram-se em Junho de 2001 e a inauguração da nova velha ponte decorreu no dia 23 de Julho de 2004. Custou cerca de 16 milhões de USD.

Nos dias que correm as pessoas tendem a esquecer-se que o que está diante delas é uma ponte com apenas doze anos de idade. É natural. Toda a envolvência cria um ambiente mágico. Subitamente pensamos estar num cenário de O Senhor dos Anéis, místico, um mundo de elfos e guerreiros alados. Além disso, o respeito pelo design original criou uma ponte que em tudo parece ter os quase seiscentos anos de idade com que a obra do sultão contaria hoje.

Ao longo de todo o ano a ponte atrai multidões de visitantes, estrangeiros e nacionais. No Verão organizam-se aqui festivais de enorme sucesso e o mergulho para as águas dos tradicionais saltadores continuam a ser momentos de grande espectacularidade.

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Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

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