Aproximamo-nos dos portões de entrada e descobrimos um painel explicativo semi-vandalizado. Explica-nos que estamos perante o segundo maior cemitério judeu da Europa, precedido apenas pelo de Praga. Localiza-se no bairro Kovačići, no sudoeste de Sarajevo. Tem 3850 túmulos, distribuídos por uma área de 31.160 m2.

Sabe-se que existe aqui desde 1630, fundado junto a um ponto onde existia uma necrópole medieval. Mas os registos escritos que poderiam esclarecer muitos dos detalhes da história do local foram destruídos, especialmente com a chegada nos nazis, em 1941: foi por essa altura que O Livro dos Mortos, que tinha sido meticulosamente copiado por Mose Altarac, secretário da comunidade Sefardita, ardeu juntamente com a Grande Sinagoga de Sarajevo.

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Detalhe de laje funerária no cemitério judeu de Sarajevo

À primeira fase do cemitério, entre 1630 e 1878, portanto durante o período otomano, corresponde uma predominância de túmulos de judeus Sefarditas, que foram amplamente recebidos pelos otomanos após a sua expulsão da Península Ibérica. Mas após a anexação da Bósnia pelo Império Austro-húngaro chegaram os judeus Ashkenazi, que passaram a ser sepultados no cemitério.

Durante a Segunda Guerra o cemitério sofreu danos consideráveis, mais pela violência dos combates do que por vandalismo. A última campa data de 1966.

Nos finais do século XX a Guerra Civil trouxe mais devastação às campas, sendo bem visíveis os traços da guerra. Existem pedras estilhaçadas, marcas de projécteis. Esta área foi ocupada pelos sérvios logo no início do conflito, em 1992, e aqui instalaram uma posição de artilharia para bombardear o vale de Sarajevo. Entretanto os sitiados recuperaram um pouco de terreno e durante boa parte do resto do cerco o cemitério tornou-se terra de ninguém, por vezes ocupado fugazmente por uma e outra parte.

Uma perspectiva geral do cemitério num cenário primaveril
Uma perspectiva geral do cemitério num cenário primaveril

Quando a guerra terminou o cemitério estava densamente minado. A Norwegian People’s Aid Society envolveu-se na limpeza do terreno, retirando cerca de setenta minas e cem obuses de artilharia que ali tinham sido deixados pelos sérvios em retirada.

Ao entrarmos notamos um monumento que se ergue numa localização central do cemitério. Trata-se de uma homenagem às vítimas dos nazis, desenhada por Jahiel Finci, um sefardita, erigida em 1952, sete anos após o final da Segunda Guerra Mundial. Existem dois outros, também dedicados às vítimas dos nazis, de origem Ashkenazi, e um em honra dos que sofreram ás mãos dos ustasha, nacionalistas radicais croatas de influência fascista.

Uma particularidade deste cemitério, até no contexto dos locais de enterro judeus na Europa, é a influência do estilo tumular bósnio medieval, com blocos de pedra de proporções significativas, a que se davam o nome de stećci. Talvez a presença do cemitério medieval na mesma zona onde este foi criado tenha inspirado esta tendência única.

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Outro detalhe, desta vez no Outono

 

 

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Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

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