Quando me falaram pela primeira vez nas rosas de Sarajevo fiquei curioso. Se eu não conhecia? Não. Então explicaram-me…

As “rosas” não têm nada de flor, para além de um simbolismo distante. A sua história é mais crua e, claro, está relacionada com a guerra civil. Sarajevo, diz-se, sofreu o cerco mais longo da História. Entre 1992 e 1996 esteve rodeada de forças sérvias que bombardearam a cidade quase sem parar.

Foram 1425 dias sob fogo. 330 granadas por dia. 470.000 no total. Que deixaram marcas. Não só vidas destroçadas, edifícios danificados, muitas vezes destruídos, mas também marcas no solo, nos pontos de impacto.

Ora após o fim da guerra alguém – não consegui descobrir quem teve a ideia – começou a preencher estas marcas cravadas no pavimento com uma resina vermelha. Uma homenagem à cidade e aos que caíram atingidos nesses locais.

Nos finais dos anos 90 existiam cerca de uma centena de “rosas”. Mas o tempo e a acção humana foi reduzindo este número. Muitas das superfícies onde as “rosas” se encontravam marcadas foram restauradas. Nova calçada, novo tapete de asfalto. E assim, em 2015, apenas subsistiam doze “rosas”.

Felizmente as autoridades pretendem preservar as que restam. Segundo Osman Smajlovic, Ministro Assistente para  Instituto Cantonal de Protecção do Património Cultural e Natural, o principal critério para uma “rosa” ser protegida pelo Governo é assinalar o ponto onde pelo menos três pessoas perderam a vida devido à explosão que causou a marca. E afirma também que será apresentada uma candidatura para que a UNESCO classifique as Rosas de Sarajevo como Património Mundial da Humanidade.

O cineasta norte-americano Roger M. Richards está a trabalhar (meados de 2016) no filme Sarajevo Roses. Segundo ele, “estas rosas são o símbolo da cidade, da sua luta para sobreviver ao cerco e ao pós-guerra, quando tudo estava em ruínas“. Ainda segundo o realizador, “(…) no meu filme, as rosas são uma metáfora para a cidade, e as pétalas criadas por cada granada são como cicatrizes no coração, uma beleza negra. O vermelho não corresponde apenas à cor da flor mas também do sangue inocente derramado nas ruas de Sarajevo. As verdadeiras rosas são as pessoas de Sarajevo, que continuam em flor. As rosas continuam a crescer, mesmo no meio da destruição“.

Trailer do filme Sarajevo Roses

Encontrar estas rosas é um desafio. São discretas, encontram-se nos lugares mais inesperados. Quem conheça a história do cerco poderá ter uma ideia sobre onde procurar. O mercado, onde ocorreu o massacre que precipitou a intervenção externa e o fim do cerco é um dos lugares óbvios. Mas descobrir as rosas é uma espécie de jogo.

Para terminar… existem muitos artigos na Internet sobre as Rosas de Sarajevo, mas para quem quer ler mais sobre o assunto, aconselharia este belo trabalho de Peter Korchnak.

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Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

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