A fábrica da Sarajevska – uma das principais marcas de cerveja da Bósnia e Herzegovina, encontra-se no centro de Sarajevo, apesar da sua localização não ser das mais frequentadas pelos visitantes da cidade.

Vamos a um pouco de história: a Sarajevska foi criada em 1864, ou seja, ainda durante o período de ocupação otomana, e trata-se provavelmente da primeira fábrica de produção em massa do país.

Contudo, a localização não foi sempre a mesma. Onde a encontramos nos dias de hoje, instalou-se em 1881, e não foi por acaso. Ali existe um dos mais vastos lençóis freáticos da região, o que permite à Sarajevska extrair a sua própria água do subsolo, bombeando-a de uma profundidade de cerca de trezentos metros.

O portão de entrada principal da Sarajevska
O portão de entrada principal da Sarajevska

Após a Primeira Guerra Mundial e a criação da Jugoslávia a fábrica entrou em declínio, apesar de ser a abastecedora exclusiva da corte real. Mesmo neste contexto menos positivo a Sarajevska conseguiu comprar algumas concorrentes e, tendo sido nacionalizada em 1922, sobreviveu.

Após a Segunda Guerra Mundial, e apesar de alguma modernização, a fábrica entrou em declínio, apenas interrompido a partir de 1991, quando todos os processos de produção foram revistos com os resultados a não se fazerem esperar: a produção triplicou e a Sarajevska tornou-se uma das quatro maiores fábricas de cerveja da ex-Jugoslávia.

Depois veio a guerra e a destruição quase total. Os prejuízos materiais foram estimados em cerca de vinte milhões de dólares, mas mesmo com a tormenta que a envolveu a Sarajevska continuou a produção, apesar de limitada a números simbólicos: 3% do que era habitual.

Habitantes de Sarajevo abastecem-se de água na Sarajevska durante o cerco
Habitantes de Sarajevo abastecem-se de água na fábrica durante o cerco

Mas mais importante que a cerveja tornou-se a água: durante o cerco os depósitos subterrâneos de água tornaram-se um dos poucos pontos de abastecimento do precioso líquido, e a população de Sarajevo passou a acorrer à fábrica para encher os seus recipientes com a água pura que brotava ali do subsolo. Foram criados longos tubos, com furos consecutivos, que funcionavam como bicas colectivas. A água da Sarajevska foi uma dos elementos que permitiu a sobrevivência da cidade sitiada.

15 de Janeiro de 1993. Duas granadas de artilharia atingem as pessoas que se abasteciam de água. Morrem oito pessoas e vinte ficam feridas. Maja Tulić estava presente e conta o que se passou:

Como noutros pontos de Sarajevo onde chacinas deste tipo sucederam, foi criada uma marca, como que feita de cera vermelha derretida, uma “rosa vermelha”, como se chamam a estas marcas de morte na cidade.

Infelizmente não existem visitas à fábrica, pelo menos em condições normais. Mas existe um pequeno mas bem organizado museu, cuja entrada se faz por uma pequena porta, do lado esquerdo dos portões principais. Uma visita recomendada.

Existe também um restaurante onde se pode saborear alguns tipos específicos de cerveja que não se encontram disponíveis nos circuitos comerciais. Nunca experimentei, mas é capaz de ser uma boa ideia. Os preços são… aceitáveis.

 

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Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

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