Este é um artigo sobre um restaurante sem o ser. É verdade que a Casa da Teimosia (Inat kuća) é hoje um restaurante, mas isso é irrelevante. Por agora quero falar da casa e da sua história.

Com a chegada dos austríacos a Sarajevo em 1878 iniciou-se um ciclo de grandes construções na cidade: o posto de correios, o museu nacional, a faculdade de Direito… mas quando as novas autoridades se dispuseram a erigir um novo edifício para a câmara municipal, depararam-se com um inesperado problema: a teimosia do senhor Benderija.

A ideia era construir na margem direita do rio um majestoso edifício, mais imponente do que qualquer outro alguma vez visto em Sarajevo. Sucede que no local pretendido se encontrava a casa de Benderija, que não se encontrava disposto a facilitar. Fez logo saber que gostava muito da sua residência e que não abdicaria dela, nem para a construção de algo tão importante.

Após complicadas negociações, Benderija aceitou ceder o seu terreno com duas condições: a primeira seria o pagamento de um saco de moedas de ouro; a segunda, mais complicada, consistia na transferência, pedra por pedra, da sua bem-amada casa para a margem oposta do rio.

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Claro que as autoridades poderiam simplesmente tê-lo forçado, sem qualquer condição. Mas o Império Austro-Húngaro tinha acabado de chegar e queria a todo o custo granjear a simpatia dos seus novos súbditos. E foi assim que o senhor Benderija ganhou o seu saco de moedas e viu a sua casa movida.  Decorria o ano de 1895.

A casa, erigida originalmente no século XVIII, apresentava um problema adicional aos responsáveis pela sua inesperada movimentação: tinha sido construída com tijolos crus, o que tornava as operações extremamente delicadas.

Diz-se que o safado Benderija se sentava na ponte ali perto, fumando o seu charuto enquanto supervisionava os trabalhadores que se atarefavam na transferência da sua casa e dos seus bens.

 

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Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

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