Nos arredores de Kotor, bem lá no cume da serra que se eleva para leste, existe uma fortaleza perdida, erigida ali pelo Império Austro-húngaro entre 1894 e 1897. A sua história remonta a meados do século XIX e à precária situação da autoridade do Império na região.

Quando em 1869 o poderoso clã local chamado Krivošije desafiou o Império, existia neste mesmo local um forte de dimensões menores. Os revoltosos bateram uma força enviada por Viena, que contra-atacou em 1882, retomando o controle da área e melhorando o sistema de fortificações que passaram a dominar a importante cidade de Kotor e os seus acessos.

Por essa altura a fortaleza estava dotada com oito peças de artilharia M80/85 de 120 mm e quatro canhões PH M05 de 100 mm. O plano inicial contemplava a instalação na área do telhado de quatro peças para defesa próxima, mas estes foram retirados em 1909, deixando a fortaleza armada apenas com peças de longo alcance.

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Uma das salas do piso térreo

A fortaleza de Vrmac teria a responsabilidade de apoiar outras fortificações na área, especialmente o forte Gorazda e a bateria Škaljari, recebendo por seu lado cobertura do forte Trašte. A posição era excelente, mas com uma vulnerabilidade que não tardou a revelar-se.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18) foi duramente bombardeada pelos montenegrinos que combatiam ao lado da Sérvia.

Os cinco oficiais e cento e setenta soldados da guarnição tiveram que suportar continuamente o impacto de obuses de artilharia de grande calibre, até aos 240 mm.

Apenas quando em 1916 o exército austríaco tomou o monte Lovćen, do outro lado da baía de Kotor, foi possível cessar o flagelo, uma vez que as linhas montenegrinas passaram a encontrar-se demasiado longe para alvejar a fortaleza. Realizaram-se então as reparações necessárias e as peças de artilharia foram retiradas de Vrmac para servirem em zonas onde pudessem ainda ser úteis ao esforço de guerra.

Uma das torres de artilharia, produzidas na Boémia pela Skoda.
Uma das torres de artilharia, produzidas na Boémia pela Skoda.

Após o final da Primeira Guerra Mundial e do desmembramento do Império Austro-húngaro a zona de Kotor passou a fazer parte da recém-criada Jugoslávia e o exército do jovem país ocupou a fortaleza durante algum tempo, antes de a abandonar em definitivo.

Hoje em dia pode-se visitar a fortaleza que, apesar de deixada ao abandono, não se encontra excessivamente degradada e não apresenta as marcas degradantes que são comuns neste tipo de espaços, como fezes, graffities e outros lixos de origem humana.

A única entrada para a fortaleza está vedada e é necessário ser-se um pouco criativo para obter acesso ao espaço interior. Uma vez no interior podem-se explorar os corredores da fortaleza, imaginando como seria tudo aquilo nos tempos em que estava operacional.

Existem inúmeras salas distribuídas pelos três pisos, sendo facilmente identificáveis as camaratas, a cozinha e as casas de banho. Uma vez no piso de cima é preciso ter atenção ao poço do elevador que levava as pesadas munições de artilharia para junto das peças que então se encontravam no interior das torres.

Pinturas religiosas de influência ortodoxa, existentes numa das torres de artilharia.
Pinturas religiosas de influência ortodoxa, existentes numa das torres de artilharia.

Numa destas torres são visíveis algumas pinturas de temática religiosa que deverão datar do período imediatamente após a Primeira Guerra, quando as forças do recém-criado Reino da Jugoslávia ocuparam a fortaleza.

Um dos pontos mais interessantes da estrutura é o telhado, de onde se pode observar quase todo o fiorde de Kotor e o Adriático do lado de Tivat. Não é simples aceder à plataforma, que tem quase 2 m de espessura. É necessário encontrar uma torreta de observação que está aberta dando então acesso ao telhado. Uma vez lá em cima tem-se a ideia da quantidade de ninhos de metralhadoras que defendiam a fortaleza no caso de um ataque de infantaria.

Uma perspectiva do telhado
Uma perspectiva do telhado
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Conheci a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro em 2011, apesar de já ter ouvido muito sobre o país através do meu vizinho e amigo Vedo. Desde então regressei várias vezes, apaixonado pelo tom misterioso de um país que será talvez o menos visitado da Europa. Acabei por ser convidado pela The Wanderlust para organizar expedições à Bósnia e Herzegovina e Montenegro, tornando-me, por assim dizer, um profissional de viagem à Bósnia e Herzegovina.

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